Um dos acontecimentos que mais contribuiu para o desgaste e descrédito da instituição monárquica foi a questão do Ultimato que, em 11 de Janeiro de 1890, o governo britânico entregou ao governo português exigindo a retirada das forças militares existentes no território compreendido entre as colónias de Moçambique e Angola. A zona era reclamada por Portugal, desde 1886, aquando da apresentação do Mapa Cor-de-Rosa, elaborado pela Sociedade de Geografia de Lisboa.
Vejamos o mapa em versão simplificada.
Estas pretensões portuguesas entravam em rota de colisão com o projeto britânico de construir uma linha de caminho-de-ferro ligando o Cairo à Cidade do Cabo, projeto megalómano que nunca se realizaria. O governo da rainha Vitória não podia aceitar as pretensões de Portugal e impôs que Portugal retirasse os seus militares da referida região, sob a ameaça da Grã-Bretanha cortar relações diplomáticas com Portugal, podendo mesmo recorrer à força.
Na própria noite do dia 11de Janeiro reuniu-se o Conselho de Estado, sob a presidência de D. Carlos. Manifestaram-se diversas posições. Prevaleceu a posição da aceitação das imposições inglesas, face à reduzida capacidade bélica das nossas forças armadas, mas a menos popular.
As manifestações de patriotismo e de apelo à guerra sucederam-se. Foi neste clima de exaltação nacionalista que Alfredo Keil e Henrique Lopes de Mendonça compuseram o actual hino nacional.
A versão original e completa de “A Portuguesa”, que se compreende perfeitamente dentro do contexto em que os autores criaram o hino, dizia:
I
Heróis do mar, nobre povo,
Nação valente, imortal,
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memória,
Oh pátria sente-se a voz
Dos teus egrégios avós,
Que há-de guiar-te à vitória!
Heróis do mar, nobre povo,
Nação valente, imortal,
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memória,
Oh pátria sente-se a voz
Dos teus egrégios avós,
Que há-de guiar-te à vitória!
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela pátria lutar!
Contra os Bretões marchar, marchar!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela pátria lutar!
Contra os Bretões marchar, marchar!
II
Desfralda a invicta bandeira,
À luz viva do teu céu!
Brade a Europa à terra inteira:
Portugal não pereceu!
Beija o teu solo jucundo
O Oceano, a rugir de amor;
E o teu braço vencedor
Deu mundos novos ao mundo!
À luz viva do teu céu!
Brade a Europa à terra inteira:
Portugal não pereceu!
Beija o teu solo jucundo
O Oceano, a rugir de amor;
E o teu braço vencedor
Deu mundos novos ao mundo!
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela pátria lutar!
Contra os Bretões marchar, marchar!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela pátria lutar!
Contra os Bretões marchar, marchar!
III
Saudai o sol que desponta
Sobre um ridente porvir;
Seja o eco de uma afronta
O sinal do ressurgir.
Raios dessa aurora forte
São como beijos de mãe,
Que nos guardam, nos sustêm,
Contra as injurias da sorte.
Saudai o sol que desponta
Sobre um ridente porvir;
Seja o eco de uma afronta
O sinal do ressurgir.
Raios dessa aurora forte
São como beijos de mãe,
Que nos guardam, nos sustêm,
Contra as injurias da sorte.
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela pátria lutar!
Contra os Bretões, marchar marchar!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela pátria lutar!
Contra os Bretões, marchar marchar!
Para não ofendermos os nossos «mais antigos aliados», na letra do hino, os Bretões foram substituídos por «canhões».
Estes acontecimentos desencadeados pelo ultimato inglês de 11 de Janeiro de 1890 condicionaram irreversivelmente a evolução política portuguesa, desencadeando uma cadeia de acontecimentos que desembocou no Regicídio e, depois, no fim da Monarquia Constitucional.
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