A História é
a ciência que estuda os factos ou fenómenos da vida da Humanidade num
determinado espaço e tempo.
Breve evolução da História
O termo historiografia
é composto a partir dos termos “história” (que vem do grego e significa
pesquisa) e “grafia” (que também vem do grego e significa escrita). Sendo
assim, o próprio nome já contém o sentido mais claro da expressão, isto é, uma
escrita da história.
Antiguidade clássica: baseava-se em relatos de grandes
feitos políticos e militares que tinham trazido fama; era pragmática e educativa,
nacionalista e patriótica. O objetivo era retirar uma lição, uma moral que
pudesse ser aproveitada pelos homens do futuro.
Homens como Cícero ou Heródoto (o “pai”
da História) usavam como método a relacionação, explicação e justificação dos
factos com base na recolha da tradição oral e escrita, bem como de testemunhos
oculares.
IDADE MÉDIA: Visão Teocêntrica da História. A História é, no
fundo, a execução das vontades divinas. Os pseudo-historiadores desta época não
possuíam a preocupação de criticar e estabelecer a autenticidade e veracidade
dos factos. A História era entendida como Universal, Providencialista, Apocalíptica
(previa-se o fim do mundo e dos homens).
RENASCIMENTO: Visão Antropocêntrica. O Homem está no centro de
todas as preocupações, é o motor de todos os acontecimentos. Os historiadores utilizam
como método a recolha de fontes, nem sempre com preocupações criteriosas e
isentas. A crítica às fontes faz-se sob um ponto de vista filológico. A
História tem assim um papel educativo ou explicativo. Pela primeira vez,
exalta-se o rigor.
RACIONALISMO: É a fase do Iluminismo. Há o aproveitamento de métodos
das ciências auxiliares da História, mas a grande novidade será a aplicação do
método científico à História, que passa a servir os poderosos e a nova classe
dominante – a Burguesia - bem como os seus ideais políticos e sociais. A História
torna-se uma forma de pensamento. Pretende-se atingir o grande público e
modelar a opinião.
POSITIVISMO: Teorizado por Auguste Comte, o Positivismo procura
converter a História numa ciência natural. Para os positivistas que estudaram a
História, esta assume o caráter de ciência pura: é formada pelos fatos
cronológicos e o que realmente significam em si e não requerem a ação do historiador
para serem entendidos (objetividade absoluta). Os positivistas não explicam nem
interpretam os factos, apenas os descrevem. É, assim, uma História do tempo
curto, do acontecimento.
HISTORICISMO A História transforma-se numa matéria para
profissionais e especialistas, subjetiva e relativa. Valoriza-se a intuição e o
papel do historiador como sujeito ativo que conhece. Preconiza-se uma história
crítica pelo recurso à hermenêutica (análise dos documentos). É a história que
faz o homem e não o homem que faz a história. Os movimentos historicistas falam num sentido da
história ou num processo histórico. Aceitam que pesquisando determinadas leis
se poderia determinar o futuro da humanidade.
A NOVA HISTÓRIA – SÉC. XX• A História Nova procura construir
uma história total. Estimula o contributo de outras ciências humanas e mesmo ciências
exatas (como a matemática). Empenha-se na construção de uma história que
permita conhecer o passado, compreender o presente e prenunciar o futuro. Preocupa-se
com o contínuo, o permanente, a estrutura (o tempo longo) e alarga os seus
horizontes a todas as manifestações do Homem.
O OBJETO DA HISTÓRIA
“A História é, antes de mais, o conhecimento
do passado (…). Outrora, factos históricos eram só as ações dos chefes políticos,
dos génios ou dos heróis. Desde que a história da humanidade se alargou, tudo
tem dimensão histórica. Desde a forma de enterrar os mortos até à conceção do
corpo, desde a sexualidade até à paisagem, desde o clima até à demografia.” José Mattoso
AS FONTES DA HISTÓRIA
“A História faz-se com documentos escritos.
(…) Com tudo o que o engenho do historiador pode permitir-lhe utilizar (…).
Portanto, com palavras. Com signos. Com paisagens e telhas. (…) Numa palavra,
com tudo aquilo que, pertencendo ao homem, depende do homem, serve o homem,
exprime o homem.” Lucien Febvre
O conhecimento
do passado só é possível se estudarmos os vestígios deixados pelo Homem ao
longo dos tempos. Esses vestígios, podem ser escritos, iconográficos,
materiais, patrimoniais…que nos foram deixados de forma informal, formal,
intencional ou não. Interrogando esses vestígios encontramos respostas que nos
permitem reconstruir a História. É desta forma que os vestígios deixados pelo
Homem se tornam fontes históricas.
- · Fontes escritas (manuscritas ou impressas): arquivísticas ou diplomáticas (tratados, leis, atas, escrituras, testamentos, registos paroquiais, cadernos eleitorais…); narrativas ou literárias (crónicas, anais, cancioneiros, biografias, romances, diários, cartas, jornais…); epigráficas (inscrições na superfície de materiais duros como pedra, metal ou cerâmica)
- · Fontes materiais/arqueológicas/ figuradas: ossadas, mobiliário, joias, esculturas, moedas, armas, brasões, selos, mapas, monumentos, pinturas, gravuras, filmes, fotografias…
- · Fontes orais (passadas a escrito ou registadas em gravação): entrevistas, depoimentos, tradições, lendas músicas…
Classificação das Fontes:
Fonte primária ou fonte original: consiste na fonte produzida no
contexto temporal na qual ela se insere.
Fonte
secundária: consiste na análise, descrição, estudo, interpretação, apropriação da
fonte primária; são trabalhos ou estudos baseados na fonte original ou
primária.
Fonte terciária: considera-se fonte terciária a obra que tende a
abranger uma gama de conteúdos específicos ou variados, mas que atue de forma
organizadora. Um almanaque, um manual, uma enciclopédia, um livro de notas, um
livro de bibliografias, um dicionário especializado, são considerados obras
terciárias. A fonte terciária pode fazer referências a fontes primárias,
secundárias e até outras fontes terciárias.
O TEMPO HISTÓRICO
O tempo
histórico deverá desenrolar-se de acordo com os fenómenos históricos (de ação humana).
Tempo
curto (ou do acontecimento) – normalmente referente a acontecimentos
políticos;
Tempo
médio (ou de conjuntura) - estudam-se as variações cíclicas breves;
Tempo
longo (ou de estrutura) - estudam-se as grandes permanências.
Conjuntura: Conceito que se integra no tempo cíclico ou tempo de
média duração, entre o acontecimento e a estrutura. Neste nível do tempo
histórico inserem-se as flutuações, que podem ser cíclicas e de extensão e
amplitude variáveis. O tempo da conjuntura é aquele que se prolonga e pode ser
apreendido durante uma vida, como o período de uma crise económica, a duração
de uma guerra, a permanência de um regime político ou o desenrolar de um
movimento cultural.
Estrutura: Os observadores do social entendem
por estrutura uma organização, uma coerência, relações suficientemente fixas
entre realidades e massas sociais. Para nós, historiadores, é “uma realidade
que o tempo demora imenso a desgastar e a transportar”. Certas estruturas são dotadas
de vidas tão longas que se convertem em elementos estáveis de uma infinidade de
gerações.
O tempo da
estrutura é aquele que parece imutável, pois as mudanças que ocorrem na sua
extensão são quase impercetíveis nas vivências contemporâneas das pessoas.
Diacronia: Eixo coordenador do tempo que se refere ao
desenvolvimento ou sucessão de acontecimentos: tempo cronológico, linear,
sucessivo, factual.
Sincronia: Eixo
coordenador do tempo que se refere às simultaneidades de factos ou fenómenos
históricos: tempo simultâneo (evento, conjuntura, estrutura), tempo da
repetição e da transformação; tempo social, descontínuo.
A Cronologia é a ciência cuja finalidade é a de determinar as
datas e a ordem dos acontecimentos históricos, principalmente descrevendo e
agrupando numa sequência lógica. A periodização
da História é a forma de enquadrar os factos no tempo e, desta forma, facilitar
a investigação e o ensino da própria História.
Períodos/Idades/Épocas
|
Duração e
marcos históricos
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Pré-História
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Desde o aparecimento do Homem
(+/-2 milhões de anos) até à invenção da escrita ( c.3500 a.C.)
|
Época Antiga
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Civilizações
pré-clássicas ou
Antiguidade Oriental (1ª civilizações) -4º milénio a.C. ao séc.V a.C.
Civilizações
clássicas ou Antiguidade Clássica (grega e
Romana) – séc.V a.C. a 476 d. C.
|
Época Medieval
|
De 476 à conquista do Império
Bizantino (Império Romano do Oriente) 1453
|
Época Moderna
|
De 1453 ao início da Revolução
Francesa (1789)
|
Época Contemporânea
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De 1789 aos nossos dias
|
O ESPAÇO
“Quanto mais o passado dos homens recua no
tempo, mais a História se molda na geografia”. Jaime
Cortesão
“O esforço
dos historiadores deve dirigir-se para a integração das civilizações num todo
(…) marcando os sincronismos, as interinfluências, as condições de isolamento (…)”.
V. Magalhães Godinho
V. Magalhães Godinho
O espaço
histórico pode-se definir como a porção do planeta onde se desenvolvem as
atividades do homem no seu quotidiano. Inserido no conjunto das suas atividades
ao longo de um período de tempo maior ou menor, ganha a dimensão histórica, não
apenas de forma isolada mas também em relação com outras áreas. O espaço
condiciona o modo de organização dos povos da Humanidade e ao longo do tempo
ganha diferentes significados que se apresentam como consequência da ação do
Homem.
mapa mundi 1689
Hidra- Grécia
A RELATIVIDADE DO CONHECIMENTO HISTÓRICO
“Todo o
conhecimento histórico é relativo e provisório. A História é uma ciência em
constante renovação. A variedade de métodos e fontes ao seu dispor permite-lhe
alargar o seu conhecimento. Mas as limitações do próprio historiador e do tempo
não desaparecem. O historiador observa o passado sempre com o seu espírito de
presente, seleciona o documento de acordo com as suas preferências… A história
e o conhecimento histórico são assim relativos e muito subjetivos. No entanto,
não deixa de ser uma ciência.”
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